quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Como se Dá o Metabolismo das Gorduras Durante o Exercício?

A perda de gordura é um dos objetivos de muitas pessoas que se submetem a um plano de treino, seja numa box, seja ao ar livre ou até mesmo em suas casas. O que poucos sabem é de que forma é que os tipos de exercício físico influenciam essa perda de gordura. Deste modo, resolvi escrever este artigo, fundamentado cientificamente, para que possas possam saber mais sobre este tema e utilizar esta informação na sua periodização dos treinos de CrossFit.

Como é que o Organismo Armazena a Gordura?
O nosso organismo armazena gordura em duas zonas:
·         No tecido adiposo, na forma de triglicerídeos;
·         Nas fibras musculares, na forma de triglicerídeos intramusculares.

Armazenamento de Gordura no Tecido Adiposo

Como deves saber, as gorduras são armazenadas no organismo na forma de triglicerídeos, os quais são constituídos por três moléculas de ácidos gordos unidos a uma molécula de glicerol. Cada triglicerídeo armazena 9 kcal por unidade de peso e, portanto, mais do que aquela armazenada pelos hidratos de carbono (4 kcal).
Uma vez que uma quantidade muito elevada de energia é acumulada numa massa relativamente pequena de triglicerídeos, estes fornecem uma grande quantidade de energia para a nossa atividade física. Em contrapartida, se toda essa energia estivesse armazenada sob a forma de hidratos de carbono (glicogénio), e atendendo que moléculas de água se ligam ao glicogénio para o tornar fisiologicamente estável, o total dessa energia acumulada corresponderia a cerca de 45,3 kg adicionais de massa corporal.

Armazenamento de Gordura nas Fibras Musculares

            Os triglicerídeos também se armazenam nas fibras musculares. Deste modo, esta fonte energética encontra-se mais próxima dos locais de oxidação, ou seja, as mitocôndrias.
Através de estudos, foi-se sabendo que, em exercícios intensos, os triglicerídeos intramusculares podem fornecer energia equivalente a um terço da energia total fornecida pelo glicogénio.


Figura 1: Representação esquemática do armazenamento e mobilização dos triglicerídeos armazenados no tecido adiposo e no músculo. Os triglicerídeos do tecido adiposo podem ser degradados em glicerol e ácidos gordos livres (AGL). Os AGL unem-se a uma proteína do plasma (albumina) para serem transportados pela circulação até os músculos e outros tecidos. Os triglicerídeos intramusculares podem também ser divididos em glicerol e AGL, estes entram nas mitocôndrias, onde são oxidados durante o exercício.




Como é que se Dá a Mobilização e Oxidação das Gorduras Durante o Exercício?

Mobilização dos ácidos Gordos Livres do Tecido Adiposo

O exercício físico estimula uma enzima que dissolve os triglicerídeos em três moléculas de ácidos gordos livres (AGL) e uma molécula de glicerol. Este processo é denominado de lipólise. O primeiro fator provocado pelo exercício que potencia a lipólise é o aumento da concentração plasmática de epinefrina (adrenalina), a qual ativa os beta-recetores dos adipócitos (Arner et al., 1990).
Os ácidos gordos libertados do tecido adiposo, como não se dissolvem em água, precisam de uma proteína, a albumina, que os transporte pela corrente sanguínea até às células alvo. Alguns AGL são eventualmente libertados da albumina e ligados a proteínas intramusculares, a qual, por sua vez, os transporta até às mitocôndrias, onde serão oxidados (Turcotte et al., 1991).

Em estudos recentes, feitos com indivíduos submetidos a um treino aeróbio e que jejuaram durante a noite, verificou-se que quando a intensidade do exercício se eleva de baixa (25% do VO2 máx.) a moderada (65% do VO2 máx.) até alta (85% do VO2 máx.) a mobilização de AGL plasmáticos declina.


Figura 2: Contribuição das quatro maiores fontes de substrato energético para a energia gasta em 30 minutos de exercício a 25%, 65% e 85% do VO2 máx. em indivíduos em jejum . Adaptado de Romijin et al. (1993).


Oxidação dos Triglicerídeos Intramusculares Durante o Exercício

Já viste que, durante os exercícios de baixa intensidade (25% do VO2 máx.), os AGL plasmáticos são praticamente a única fonte de gordura utilizada como combustível. No entanto, o total de gordura oxidada pelo organismo aumenta quando a intensidade se eleva de 25% para 65%, este facto é atribuído à oxidação de triglicerídeos intramusculares, o qual fornece praticamente metade das gorduras oxidadas. Estes valores de oxidação de triglicerídeos intramusculares reduzem-se quando se aumenta a intensidade para 85% do VO2 máx.


Figura 3: Fontes de gordura oxidada durante um exercício de 25% (andar), 65% (corrida moderada) e 85% (corrida intensa) da capacidade máxima de captar oxigénio em pessoa em jejum.



De certeza que já ouviste que a intensidade do exercício deve ser baixa para queimar melhor as gorduras. Porém, observando as figuras 2 e 3, podes verificar que a quantidade de gordura queimada foi maior a 65% do que a 25% do VO2 máx. A 25% do VO2 máx., praticamente toda a energia gasta durante o exercício é derivada da gordura, no entanto a oxidação da gordura a 65% do VO2 máx. acresce somente 50% do total de energia gasta. Assim, devido ao fato de o total de energia gasta ser muito maior (cerca de 2,6 vezes maior) a 65% do VO2 máx., a quantidade de gordura oxidada é maior, isto é, 50% superior (figura 3).  

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